"Corvo Dinis", Blogue do Agrupamento de Escolas D. Dinis

20 maio 2010

Crónicas da Adolescência,

de Inês Ramadas, do 9.º E.

É tão estranho… todos fomos adolescentes a certa altura, tal como todos fomos crianças, mas apesar disso, nenhum adulto consegue compreender uma criança ou um adolescente.
Eles dizem “eu já passei por isso”, “não cometas os mesmos erros que eu”, “estás mesmo na idade do armário”.
Exactamente! Estou!
Como todos eles já estiveram e o que eu não compreendo é como se puderam esquecer.
Se já passaram pelo mesmo, deviam dar-nos conselhos úteis e ajudar-nos a perceber.
Neste momento, tudo o que eu achava simples há uns meses, agora é tão difícil.
Eles dizem-nos que temos uma escolha, que a opção é nossa, mas não é.
Existem uma série de factores que nos levam a ficar comprometidos de alguma maneira…
Não beber, não fumar, não drogar, é tão bonito apelar aos jovens para que não fumem… aliás poderei até dizer comodista! Desculpem lá, mas não passaram já por isto?
Acham mesmo que se pedirem com jeitinho paramos todos?
Tudo o que tem a ver com consumo de substâncias sejam elas ilícitas ou não depende de duas coisas, até que ponto os nossos amigos são nossos amigos e até que ponto somos influenciáveis.
Eu tenho música, desporto e escola.
Conheço um montão de gente, desse montão de gente, uma grande parte fuma.
Desse montão de gente uma grande parte ganza-se.
Desse montão de gente, noventa e nove porcento bebe.
De quem é a culpa?
Não culpem a Internet ou os telemóveis.
Culpem antes os pais.
Claro não podemos ser generalistas, em toda a regra existe excepção, mas agora os pais simplesmente não se esforçam, são controlados pelos filhotes de cinco anos que gritam no supermercado que querem um ovo kinder e não sabem dizer não.
“Pronto, cala-te, pára de gritar, eu dou-te o ovo kinder.”
O ridículo é ser controlado por uma criança de cinco anos porque neste caso se o pai ou mãe não derem o ovo kinder à criança, alguém vai dizer “coitado do miúdo, é só um ovo kinder” e se derem, outros dizem “Já ninguém sabe ter mão nos seus filhos”.
Têm mais vergonha do que o que a sociedade pensa deles, por terem um filho a gritar no meio do supermercado do que o que esta pensará quando o seu filho, porque nunca teve de obedecer a regras e não sabia a diferença entre o certo e o errado, fugiu de casa e roubou todas as jóias da mãe para comprar droga.
Aqui está uma conclusão à qual já deviam ter chegado, ninguém quer saber… as pessoas falam, comentam e será sempre assim, se não for o vosso escândalo é o de outra pessoa qualquer e seja por qualquer uma das razões que eu referi, haverá sempre alguém a ver, haverá sempre alguém a comentar e não a ajudar, as pessoas são más.
E os pais não compreendem os seus próprios filhos.
A rapariga que chegou a casa a chorar porque o namorado acabou com ela e eles dizem “ainda bem, ele era uma má influência para ti”, em vez de se preocuparem com o sofrimento dela, seja longo ou curto é sofrimento, esquecem-se que vinte ou trinta anos antes estavam no mesmo lugar que ela.
Meu deus! Esquecem-se de como era fácil enganá-los! Sair à noite sem a sua autorização “ Vou dormir a casa da Mariana!”, fugir de um castigo “ Tenho de fazer um trabalho de grupo em casa da Joana”, aliás, nem precisamos de fazer nada disto, porque no fim de contas eles passam o santo do dia fora de casa! Por favor? Não vêem que é muito mais fácil se ralharem menos e tentarem compreender mais, que se souberem mais coisas sobre nós é tão mais fácil controlarem-nos?
Mas este não é um projecto que possa ser começado assim do nada, têm de ter paciência, têm de nos aturar quando dizemos com certezas absolutas que amamos aquele rapaz e têm mesmo de perceber que quando falamos com vocês, devem partir do princípio que três quartos do que nós dissemos, foram mentiras.
Mas o que me irrita mais é a falta de confiança em nós, parece que me estou a contradizer, mas o que eu quero dizer é, a falta de confiança no nosso discernimento, e essa falta de confiança provém do sentido de culpa de qualquer pai, que tem noção que não transmitiu da melhor maneira os ensinamentos com os quais todos nós precisamos de lidar durante a adolescência.
Eu, posso dizer com toda a certeza que consigo recusar um cigarro, uma ganza, uma bebida alcoólica, se quiser eu recuso, se achar que é perigoso, eu tenho o discernimento para recuar, para me vir embora se for necessário.
Os adultos desdenham tanto da adolescência mas esquecem-se que é difícil.
Somos cruéis uns com os outros, choramos, gritamos, sorrimos e cantamos, caímos ao chão e voltamos a levantar-nos.
Vivemos amores proibidos, consumimos substâncias ilícitas, temos más notas e baldamo-nos às aulas.
Pensamos que encontrámos o amor das nossas vidas e acabamos até por fugir de casa.
Descobrimos que talvez não estejamos prontos para o amor, que temos saudades de casa e da protecção, descobrimos o medo.
Descobrimos que a vida não é nada, senão sobreviver, que nascemos para morrer e mesmo assim continuamos, não desistimos.
E mesmo assim, somos desprezados pela sociedade.
“No meu tempo, não era nada assim”, “Ai, se fosse na minha altura”.
Se não fosse assim era parecido, mas ninguém percebe isso.
Ninguém quer admitir que nós realmente temos direito a errar.
Eu acho que os adultos são adolescentes com um bocadinho de mais experiência de vida.
Eu acho que eles se lembram de tudo e acho que interiormente, subtilmente, eles nos invejam.
Eles invejam a nossa idade, a nossa inexperiência, o nosso aspecto e o facto de estarmos apenas no início da descoberta da dura realidade da vida.

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